Hoje nossa conversa é sobre a Teoria Utilitarista e em como essa vertente pode distorcer nossas decisões.
Ao tratar, anteriormente, do princípio racional em que nossas escolhas se baseiam, apresentamos a ideia de aumentar a satisfação e diminuir a dor. Essa é uma visão ética (como agir) dos utilitaristas sobre as motivações humanas. Então, para essa vertente, e tendo Jeremy Bentham como um dos principais expoentes, o principal fator que determina a escolha do indivíduo é aquela que gera um nível geral de felicidade maior.
Observe que, estamos falando de ‘níveis’ e quantidades, logo, o valor que atribuímos a algo é o quanto mais útil aquilo aparenta ser.
E aqui há uma relação interessante com a nossa sociedade, e nada melhor para ‘medir’ essa utilidade do que algo que seja universal e altamente cambiável como o dinheiro. A título de exemplo, vamos comparar duas profissões: cantor e professor.
Ao fazer um show para um estádio lotado, o cantor está sendo ‘útil’ para milhares de pessoas ao mesmo tempo e isto, se refletirá nos seus ganhos. O show se encerrará, a memória do mesmo, permanecerá, mas a utilidade em si foi realizada momentaneamente.
Agora, imagine que a mesma pessoa que foi ao show, na mesma semana esteve presente em uma aula de filosofia e, o que o professor lhe apresentava parecia um pouco distante do seu ‘mundo’, ele ensinava sobre a Brevidade da Vida, até que ele escreve no quadro a seguinte frase:
“O conforto de ter um amigo pode ser tirado, mas não o conforto de ter tido um” (Sêneca)
A pessoa em questão vê a frase e considera seu valor, mas uma notificação do celular surge e instantes depois já está pensando no pacote de sal que a mãe pediu pra comprar.
Passam alguns anos, e uma mesma notificação a surpreende, é a mensagem que aconteceu um infortúnio com sua melhor amiga e que ela deve correr para o hospital. No local recebe a pior notícia possível, o acidente encerrou a vida da pessoa que mais ama no mundo. E no meio de uma tristeza profunda, ela se lembra da frase escrita pelo professor no quadro, e começa a recordar dos momentos, só que dessa vez não com um olhar de perda, mas de agradecimento por cada lembrança.
No seu momento de maior dor, um acalanto. Qual o valor disso? Qual a recompensa do professor por isso?
Há uma distorção na utilidade, no sentido de que a recompensa de uma ação pode não estar ligada ao presente. O ensinamento de um professor monetariamente está aquém do seu cantor preferido, principalmente pelo impacto no número de consumidores. E, podemos nos satisfazer com a música, mas, que possamos permanecer atentos ao que não é útil hoje, mas tem seu valor intrínseco só por existir.
Nos próximos posts abordaremos como a visão econômica de racionalidade absorve o conceito de utilidade e a transforma em modelo de decisões matemáticos. Até breve!
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